terça-feira, maio 02, 2006

Medo na Madrugada

Caminhava uma hora da madrugada por Copacabana. Perdeu a noção do tempo no escritório. Todos foram indo, ele ficando. E agora caminhava por Copacabana. De madrugada.
Rio de Janeiro, onde mora, onde todo dia lê notícias sobre violência.

Olhava pra um lado, e, de súbito, como se de repente fosse notar algo diferente, olhava para o outro. Parecia estar fazendo sinal de negativo com a cabeça da forma frenética com que ela se movia. Às vezes olhava de rabo de olho para trás, procurando ver alguém.
E via. Mendigos dormindo ou procurando algo no lixo. Vultos de motoristas em alta velocidade. Um moreno alto.

Como num estranho passe de mágica a rua ficou mais escura, sombria e deserta. Completamente deserta se não fosse por aquele moreno alto que viu de rabo de olho.
Fez seus pés se moverem mais rápidos e notou que o homem atrás fazia o mesmo.
O homem pareceu fazer um sinal com a mão direita. “Meu Deus, uma arma!”, pensou de pronto.
Pôs-se a rezar. Coisa que não fazia desde de que sua mãezinha havia ficado doente, meses atrás. Dizia-se católico não-praticante.

Enquanto rezava, percebeu-se correndo. Virou na primeira esquina, e se esmerou como um gato caquético para de trás de um carro estacionado. Ofegante e com os joelhos ralados (não engatinhava desde de sua tenra infância), levantava os olhinhos amedrontados por entre os vidros filmados à procura do homem.
Manteve-se ali por cinco minutos que não chegaram a parecer uma eternidade, mas no mínimo alguns preciosos anos.

Respirou lenta e profundamente dizendo pra si mesmo: “Seja macho”. Do alto de seu orgulho, levantou todo mambembe. Além de um morcego, o qual, no seu íntimo, ele desejava que se transformasse no Batman, não viu mais nada que se movesse.
Bateu as roupas, ajeitou seu cabelo desgrenhado, e virou pra seguir seu caminho. Lá estava o moreno alto na sua frente.

Já era branco, porém conseguiu ficar pálido de tal forma que lembrava neve. Imagine olhos arregalados. Imaginou? Era o dobro.
Conheceu o verdadeiro sentido da palavra pavor.

A mão do moreno começou então a se mover em câmera lenta. Dessa vez sim pareceu uma eternidade. Foi-se formando um certo volume naquela mão direita. “É a arma, o trambolho desgraçado portado pelo ceifador de vidas, um impiedoso destruidor de famílias”, pensou.

O moreno então falou. Soava como um trovão, como o arauto da morte: “Está aqui sua carteira, senhor. Deixou cair há umas três ruas atrás. Tchau e tenha uma boa noite.”

2 comentários:

Anônimo disse...

Olá :)
Uma pergunta: teve alguma influência direta esse post ou foi apenas algo que surgiu de sua mente?:)
Pois quando li no começo não sei porque pensei que fosse você..mas desisti dessa idéia logo depois :)
Infelizmente sempre pensamos no pior,afinal,as circunstâncias nos fazem agir assim.INFELIZMENTE.

Um beijo!

Anônimo disse...

É engraçado, realmente, como as circunstancias atuais nos fazem pensar assim, preconceituosamente... é bom acreditar q existem pessoas assim, honestas, independente d raça, credo, sexo...Parabens, c ta escrevendo mt bem!!!

Bjokaxxxxxxxx

 
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