quinta-feira, abril 29, 2010

UPPs - Uma visão de dentro da favela

Jedi diz:
q q tu acha das upps?

Flavio SantoRua. "Religiões constroem templos e destroem mentes." diz:
é uma discussão bem complicada...
pq tem duas perspectivas ..


Jedi diz:
queria saber a visão de dentro da favela, pq de fora pra classe média, parece uma boa

Flavio SantoRua. "Religiões constroem templos e destroem mentes." diz:
uma dá tentativa de integração da favela com o asfalto... outra... de uma especialização da repressão nas favelas sem possibilitar melhorias ...
é pode crer ...
tipo ...
o estado até então "permitiu" a favela até hj .. tanto como uma tentativa de eliminação e apodrecimento por ela mesmo.. qnto por descaso mesmo .. mas aconteceu o contrario.. a favea cresceu e começou a invadir o "asfalto" né . os bairros de classe média .. e tipo assim...
a favela ja estava se tornando digamos "independente".. com suas leis proprias... um poder não-organizado..mas, paralelo.. e como consequencia o estado começou a intervir.. agora essa intervençao q é as upps.. é q é muito complicada pra nós .. pq a gente sabe q o estado não está preocupado com a reestruturação ou a melhoria da qualidade de vida das pessoas q moram nas favelas ..
então..
isso aparentemente pra nós .. é um tipo de ditadura focalizada...
onde a intervenção militar do estado atua alguns pontos estratégicos(favelas)... pra implementar ali uma nova mas antiga forma de organização .. e estabelecer a ordem sob as leis do estado ..


Jedi diz:
as favelas viraram sub-bairros, só que sem poder do governo oficial, aí veio classe media, principalmente zona sul reclamando, agora tão tomando essa atitude da upp.
E agora eu to vendo a visão de dentro, com tu me falando,
a upp tinnha que vir com um pacote de opções, de oportunidades, de urbanização, lazer, cultura.

Flavio SantoRua. "Religiões constroem templos e destroem mentes." diz:
isso!! pq na verdade a gente continua preso a mesma lógica... q é força militar com imposição repressora.. silêncio e ócio ...


Jedi diz:
é só empurrar com a barriga. Solução imediatista política.
e o futuro?

Flavio SantoRua. "Religiões constroem templos e destroem mentes." diz:
pode ser até permanente .. q pra eles tbm é uma boa .. pq oq eles alegam .. q o problema da favela é o tráfico.. tipo.. ah o muleq rouba e mata pq é viciado .. mas num é... e o problema da favela num é o tráfico.. pra mentalidade da classe média é ... então o governo vai tentar reduzir esse problema...
mas extinguindo o tráfico ou não .. a favela vai continuar na miséria e no ócio


Jedi diz:
A idéia é das UPPs serem permanentes mesmo, mas a minha concepção de ter chamado de imediatista, foi da visão de perspectiva futura. É permanente, porém imediatista, porque não muda a cultura da favela. Ou seja, como vc disse, a favela se mantém na miséria e no ócio. E sem oportunidades e sem o tráfico, que infelizmente acabava sendo a opção, o que vai acontecer?

Flavio SantoRua. "Religiões constroem templos e destroem mentes." diz:
é.. é bem possível q voltemos e aumente o banditismo.. a corrupção da policia aumentará ainda mais ... pq os traficantes europeus num vão querer para de vender drogas no rj .. então vão comprar quem tiver no caminho pro mercado continuar... e o trabalhador q mora na favela será ainda mais reprimido .. pq de certa forma ele será "integrado".. e com seus 450 reais mensais terá q contribuir com
todos os impostos de renda


Jedi diz:
Aí, queria postar essa nossa conversa no meu blog, posso?

Flavio SantoRua. "Religiões constroem templos e destroem mentes." diz:
demoro
e diz tbm o seguinte ..
q na real.. a intenção do estado..
é a eliminação de contingente nas favelas.. pra um melhor controle .. mais eficaz... por exemplo..
hj.. a mulher lá tem 9 filhos... 2 se tornam trabalhadores... e 7 ociosos... esses ociosos estão bem propícios a cometer delitos ...
mas eles não explicam q é possível uma recuperação independente do numero de pessoas no morro .. é só liberar verbas pra implementação de politicas públicas favoráveis a nós .. mas pra isso eles não tem interese... eles culpam o favelado em todos os aspectos! a culpa da miséria.. da criminalização.. é tudo nossa!
sociedade modelo e ordem pra eles .. será qndo os favelados tiverem todos sob a rédia de seus patrões ... todos empregados... servindo... e uma organização social tipo.. uma neo-casta..
vc nasce filho de proprietário vc será um proprietário... vc nasce filho de empregado vc será um empregado .. e a ideologia dominante nos impedindo de perceber isso ..

a miséria num existe pq existe muito favelado... a miseria é um produto criado propositalmente
pra conservar seres humanos na linha da penumbra a mercê de aceitar qualquer coisa pra não morrer de fome ..
oq acontece é q esse numero de pessoas q eles conservam na miséria é q está crescendo demais .. então eles não irão e nem se preocuparam em resolver o problema da miséria.. mas diminuir o numero de pessoas... diminuir o numero de favelados...


Jedi diz:
Concluiu?

Flavio SantoRua. "Religiões constroem templos e destroem mentes." diz:
acho q sim



Flavio SantoRua é militante carioca envolvido com questões raciais e sociais, morador da Zona Norte, nascido e criado no Complexo do Alemão e conhecedor do mundo real da favela. E tem um blog www.favelacores.blogspot.com

Jedi tem diploma de Jornalismo (isso quer dizer algo?) e também de Técnico em Publicidade e Propaganda (e isso?)


"Entrevista" feita via Messenger no dia 29 de abril de 2010

9 comentários:

Pillar disse...

A mídia em geral não dá voz a grupos ditos marginalizados - e que de fato o são perante a organização da sociedade.
A internet é uma ótima dose de contraposição de visões. Ou melhor, de enxergamos as múltiplas realidades que existem, dado que vivemos em um mundo com informações escolhidas de modo fracionário e com propósitos bem definidos. Porque pensamos tanto como classe, ao invés de pensarmos como seres/tipos humanos?

Tupinamblack disse...

Pillar,
Pensamos como classe pois somos dividos em classes, desde que nascemos.
Por mais que isso seja "plástico", fluido e perfeitamente mutável, nós somos sim divididos em classe.
Quanto ao tema das Upp's, o estado está na tentativa de recuperar aquilo que é sua definição por excelência, dita pelo sociólogo Max Weber. Ele define estado dizendo que é o único manipulador legítimo da força física. Em outras palavras é o único que pode usar a violência enquanto instrumento legal.
Essa tentativa de recuperação desse status se traduz nas Upp's. O grande problema que inclusive foi apontado pelo entrevistado é que o principal fator de segregação da favela do restante da cidade, não necessariamente consiste no tráfico. E sim na falta de acesso as necessidades básicas do ser humano, como saneamento , educação de qualidade e etc...Pode se colocar tambem como problema a estigmatização pelo fato de ser "favelado" e tudo que essa palavra significa pra classe média.
O diferencial da cidade do Rio de Janeiro para outras cidades é que as favelas tambem estão dentro dos bairros de elite, o que a torna um problema deveras fato.
Poderíamos pensar no seguinte, se as favelas só estivessem na periferia da cidade, seria um problema???
Por que as Upp's foram instaladas primeiro nas favelas da zona sul???
A polícia é quem tem que garantir direitos???
Se será permanente ou não as Upp's, talvez não seja a pergunta mais urgente e sim se essa lógica da favela/problema vai ser permantente.

Flavio Psicopreto disse...
Este comentário foi removido pelo autor.
Flavio Psicopreto disse...

hehehe... iae pillar!!! po.. eu já vejo o contrário, a gente pensa demais como "ser humano" rsrs (estranho né?!?, mas deu pra entender??!)... quase não pensamos como classe... além do mais pq isso tbm vai de encontro aos interesses da classe dominante que nos impede de pensar como classe... não é interessante pra eles(os proprietários), q todos saibam que a sociedade é dividida em classes e a grande maioria esmagadora da população pertence a classe subordinada... q trabalha muito e ganha pouco pra manter o luxo e o altíssimo estilo de vida de poucos...

o legal pra eles é justamente implantar uma ideologia q diga q todo mundo é igual... e assim não perceber diferença nas relações do estado com as classes... apenas culpar os politicos pela corrupção q traz a miséria e trabalhar muito pra ficar rico... esse é o grande desejo da classe dominante!

então assim, pra nós que estamos na condição de explorados. é bem interessante que levantemos essa bandeira de discussão tanto racial qnto classista.. pra acentuar as diferenças!! e deixar mais evidente o reconhecimento de uma classe explorada, quem são seus pertencentes... e que é através da mobilização dos "oprimidos"(pertencente das classes exploradas e subordinadas) que se transforma ou modifica alguma coisa a nosso favor... a sociedade inteira não vai se mobilizar pra transformar um setor.. pq as vezes, não convém a determinada classe ou não lhe oferece nenhum tipo de lucro.. pq? pq os interesses das classes são diferentes... nossa sociedade é dividida em classes... aquilo q vá beneficiar a favela, nem sempre irá beneficiar a zona sul... então, é o favelado que deve se mobilizar reconhecendo que seus interesses são diferentes e q ele é DIFERENTE do morador da zona sul... pq enquanto vigorar esse discurso d q todo mundo é igual e que não existem classes... a sociedade vai se conservar nesse mesmo modelo hierárquico-explorador... e sem os explorados saberem disso... então a gente tem q tentar fazer o individuo perceber q ele pertence a um determinado grupo.. esse grupo atende a determinados interesses.. esses interesses não nascem do nada... nascem de acordo com a classe em que ele está nserido e q essa classe compõe a sociedade em q ele vive...

hehehe "falei" demais né??? acho até q deve tá tudo confuso!!! rs..salve a todos aee!!!

Unknown disse...

Concordo em alguns pontos, mas acho que fica meio com papinho de "é tudo culpa do governo".
Não gosto disso também não. A UPP naturalmente, pelo simples fato de tirar o trafico da favela já melhora a qualidade de vida do favelado. Mesmo sem nada á mais. É claro que pode-se - e deve-se - implementar um programa completo de melhoria social da sociedade favelada.
Mas dizer que "a gente continua preso a mesma lógica... q é força militar com imposição repressora.." É a mesma força militar do asfalto ora.
Ruim com UPP. Pior sem ela. É o ideal? Não, longe disso! Mas é uma boa solução a curto e médio prazo.
O governo tem sua (grande) parcela de culpa. Mas a sociedade também. Estudei em colégio público, convivi com o trafico de perto e nunca me envolvi. Convivi com usuários de drogas e nunca experimentei. A galera quer o mais fácil, o jeitinho mais mole de ganhar dinheiro...de não pagar luz...de ter todos os canais da NET. E dói ter que se desfazer de tudo isso. Eu sei. Cada um com suas escolhas. Alguns tem as melhores oportunidades do mundo e jogam fora, outros não tem nenhuma, mas buscam sempre o melhor caminho. Chega dessa história de "oportunidade".
Falo como morador de Santa Tereza. Ouço tiros decorrentes de guerra de tráfico desde criança. Nasci em 1983, cresci junto com as favelas daquela região.
E assim como a maioria dos moradores (excessão dos familiares de traficantes e os "simpatizantes") não vejo a hora da chegada da UPP no meu bairro.
Para poder chamar meus amigos tranquilamente á tomar uma cervejinha, sem constrangimento algum, sem vergonha!
Essa é a minha opinião, construída de acordo com o que sempre senti e continuo sentindo...na pele.
E não desejo pra ninguém.

Flavio Psicopreto disse...

a mesma polícia está no asfalto e na favela! mas vc acha q a relação é a mesma??? o favelado desdentado preto e semi-analfabeto é tratado da mesma forma q o Sr. Vonhauser graduado em economia e morador de ipanema??? voa canarinho voa...

com a upp a favela continua sim presa a mesma lógica!!!

abuso policial, silêncio e ócio!!!

mas é tudo em nome da paz num é mesmo?!?...

que os favelados continuem morrendo... mas que agora seja em nome da paz...

Unknown disse...

Não soube de casos de morte por confronto nas favelas já ocupadas pela UPP. Pelo contrário. Aumenta a segurança dos moradores.
Sem a UPP já sofri abuso do tráfico em 2004. Será que foi por que sou branco (mesmo sendo descendente de negros) e tenho todos os dentes?

Flavio Psicopreto disse...

vc não soube se ocorreu algum caso de morte .. e nem vai saber.
sobre vc ter sofrido abuso do trafico tire suas conclusões...

Pillar disse...

Que somos criados por um mundo divididos em classe, isso é básico. Mas não significa que devemos AGIR do mesmo modo. A dificuldade da união está justamente por pensarmos em categorias, isto é, em lutas de grupos específicos. Exemplo: a luta de rodoviários muitas vezes está por melhores salários ´´apenas``, não por melhorias em toda uma infra-estrutura. O que ocorre é que a sociedade/indivíduos veêm isto como se ´´nada tivesse a ver com ela``, o que continua gerando a segregação de lutas e grupos. É um sistema cruel, vira um ciclo.
Quanto à violência, o foco no tráfico na fala do Estado, concordo plenamente. O que eu quero destacar é nossa ação e pensamento fragmentado.
Não é preciso fazer muito esforço para perceber onde estão concentradas as ações do poder, digamos assim. A representação da polícia como o poder que ´´garante a ordem social`` (veja bem, na visão de algumas pessoas) é histórica, desde o período militar. Nosso país - e se geograficamente falarmos, a América Latina - é marcada pela repressão militar.

Flávio, entendo perfeitamente o seu pensamento de ´´ser humano``. Acredito que você esteja falando no sentido de INDIVÍDUO. Acertei? Não é disto que falo. Até porque nossa sociedade é capitalista com valores burgueses. A competitividade e o individualismo são valores básicos, repassados naturalmente (e isto é EM TODA CLASSE). Logo o SER HUMANO acaba virando um TIPO INDIVIDUALISTA. O que quero discutir é porque não pensamos como TIPO HUMANO, ser humano que somos. Perdemos nossa HUMANIDADE em prol da INDIVIDUALIDADE. Entende? Me baseio nisto com a definição do Leandro Konder, num livro chamado ´´ Os Sofrimentos do Homem Burguês``. Ele examina este homem em todos os campos: arte, ética, no Brasil e blábláblá. Daí ele chega nesta discussão do TIPO HUMANO. Enfim!
Na verdade, pra mim há um dualismo aí. Pensamos como indívíduos e classes, dependendo do contexto. A 1ª fica mais evidente atrelada à competitividade, a 2ª quando pensamos em luta, no trabalho. A classe dominada sabe muito bem se autodiferenciar da classe dominante (veja quando vc expôs proprietárioXempregado).
E dizer que todos são iguais é princípio básico da organização liberal: ´´ todos tem oportunidades iguais``. Balela, óbvio. Mas daí cai na idéia de que você é responsável pelo seu fracasso/sucesso e etc.
E só pra fechar, quando você fala que a sociedade inteira não irá se transformar para transformar um setor...já pensou que a maioria esmagadora da sociedade que é a dominada? A transformação está no coletivo. A grande dificuldade está na consciência REAL disto. Mas infelizmente sei que isso é uma utopia, no sentido negativo. Mas também digo que não escolhi a área da educação à toa.
Sobre a classe, eu não moro na favela e não sou da classe dominante. E aí? Significa que não posso adotar a luta da favela só porque não moro lá?
Quando você segrega a sua própria luta, dificulta a própria vitória.

Bom, por mim poderíamos ficar horas trocando visões e experiências quanto ao assunto. Até porque, pensamos na mesma direção, só que usamos palavras diferentes.

 
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